quarta-feira, 19 de março de 2008

Osmose


Para conhecer um dos trabalhos pioneiros da ciberarte imersiva. Osmose, criação da canadiana Char Davies, é uma instalação de realidade virtual imersiva, um espaço para explorar a relação perceptiva entre o eu e o mundo, um lugar que desperta a percepção para si próprio como uma consciência envolta num mundo aparentemente natural.

O imergido, apetrechado com um visor 3D e um corpete munido de sensores de respiração e equilíbrio, começa por flutuar sobre uma grelha onde se familiariza com o meio de deslocação no espaço. Pouco depois entra numa floresta e mais à frente um terreno árido dominada por um carvalho junto a um charco. Há luzes que brilham fugidias como pirilampos e que se apagam lentamente, ouvem-se vozes semelhantes a fadas. Este grande carvalho lembra-nos Yggdrasil num pântano primevo, do suco da vida. Ao inspirar rapidamente, o imergido consegue saltar para os ramos mais altos da árvore e ainda para o céu, onde encontra frases de Rilke, Marleau-Ponty e Bachelard que inspiraram Davies na execução do projecto. Expirando fortemente submergimos no pântano, pela terras, rochas e entramos numa caverna onde correm grandes colunas luminescentes, 20 000 feixes de luz - linhas de código que são o mesmo número que o programador deste mundo subterrâneo, John Harrison, utilizou para o construir. Aqui a sub-estrutra mecânica que suporta o simulacro fica exposta.

Davies vê na ciberarte as próprias doenças da sociedade ocidental, a cultura da valorização da mente em detrimento do corpo, do civilizacional sobre a natureza. Davies utiliza o ciberespaço para redespertar o homem para a natureza, para as suas raízes, activando toda a percepção sensorial do nosso cérebro. Tal como escreve no texto Rethinking VR o desafio é "repensar a tecnologia não como um meio de escape mas de regresso."

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